A paquistanesa
Malala Yusufzai tornou-se na passada sexta-feira a pessoa mais jovem (com 17 anos) a
ganhar o prémio Nobel da Paz 2014. A jovem foi distinguida por defender a educação
feminina, após quase ter perdido a vida a apoiar a causa.
«Apesar da sua
juventude, já lutou durante anos pelo direito das meninas à educação e mostrou
com o seu exemplo que crianças e jovens também podem contribuir para melhorar a
própria situação», afirmou o Comité do Nobel.
O seu nome ganhou
destaque ao saber que ela era a menina que assinava com o pseudónimo de Gül
Makai, no blog do canal britânico BBC, durante a dominação talibã no Vale do
Swat (norte do Paquistão), entre os anos 2008 e 2009.
Foi nessa época
em que muitas crianças e sobretudo, meninas, ficaram impedidas de ir à escola.
Primeiro pela proibição dos talibãs e depois pelos intensos combates que
duraram quase seis meses.
Isso aumentou a
sua fama no país e deu-lhe visibilidade internacional, em parte pelo impulso do
pai, proprietário de uma escola em Mingora (principal cidade do Vale). Essa
mesma fama foi responsável por gerar ainda mais inimizades entre os radicais.
A jovem fez um
forte apelo para o direito das meninas a frequentar a escola e explicou como
faziam para burlar as proibições dos talibãs na sua região para que
continuassem a assistir às aulas, sendo encorajadas por algumas professoras.
O seu discurso -
e um comentário considerado provocador no Paquistão, por dizer que tinha como
referência o presidente americano, Barack Obama - acabou por provocar a ira dos
extremistas, que enviaram homens armados até à região onde morava, em Mingora.
No dia 9 de
Outubro de 2012, Malala voltava para casa após realizar exames. Quando o
veículo em que estava com outras 15 meninas foi invadido por dois homens
armados que perguntaram quem era Malala Yusufzai e, após identificá-la,
atiraram sobre ela.
As balas
atingiram-na na cabeça e por isso, os agressores acharam que estaria morta,
embora tenha sobrevivido.
Após ser
transferida com urgência para um hospital de Rawalpindi, próximo à capital do
país, a menina foi levada (ainda inconsciente) para o Reino Unido, por conta do
medo de que os talibãs quisessem certificar-se da morte dela.
Os supostos
culpados, membros da facção talibã que tinha aterrorizado o Swat e que agora se
refugiam no Afeganistão, foram detidos há um mês pelo Exército paquistanês.
A partir daí, a
recuperação da activista foi lenta, embora as sequelas que o atentado deixou
ainda sejam visíveis. Malala foi vista como um ícone internacional devido ao
seu discurso nas Nações Unidas.
Antes do Nobel -
concedido também a Kailash Satyarthi, activista contra o trabalho infantil na
Índia -, Malala recebeu outras condecorações. Entre eles, o prémio Sa
kharov
para a Liberdade de Consciência concedido pelo Parlamento Europeu, o Simone de
Beauvoir e o Prémio Convivência Manuel Broseta.
A sua biografia «Eu sou Malala»
tornou-se um recorde de vendas internacional.Durante a apresentação da biografia, realizada há um ano em Nova Iorque, a jovem afirmou que gostaria de ser primeira-ministra do Paquistão.
«A melhor forma
de lutar contra o terrorismo e pela educação é através da política. Agora sinto
que é minha responsabilidade continuar a trabalhar pela educação e falar pelos
direitos de quem sofre o terrorismo e de quem não tem voz.»
A jovem também
discursou sobre a sua vontade de continuar a estudar para que um dia volte ao
Paquistão.
«É o meu país.
Ninguém esquece a terra onde nasceu e espero voltar o mais rápido possível»,
concluiu.
O Paquistão recebeu até agora
com frieza e indiferença o destaque da jovem, algo que o Nobel poderia mudar.
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